BELEZA APARENTE
BELEZA APARENTE
Desfaça com um golpe de mão
Os meus carinhos.
Desfira teu corte lento
Que entro em agonia
Desaparecendo do teu lado
Com soluço doído
Com agonizar de noite
Morrendo no suor do dia.
Vou me refrescar em velha fonte
Ver o caminhar das aldeães
Sorrir com o lirismo que há nos cantos
Que surgem do fundo das bocas
Desaparecendo nos ares como o próprio ar
Misturando-se às arvores, às folhas
Para alimentar no outro lado do rio
As alma pagãs.
Deito o corpo triste na relva úmida.
Vendo o céu, viajo contente.
Caminho por planetas e cometas
Observando retas de eterna luz.
Dano a correr por estrelas dormentes
Até encontrar lugar calmo e plano
Onde possa chorar quieto e completamente.
Quieto e vazio pelo chorar desatado
Adormeço na noite do tempo
Despertando em outro mundo
Outro cometa, novo hemisfério:
Nem feliz, nem contente
Simplesmente calmo
Eternamente sorridente.
Desprendo suor do rosto
Cegando os olhos no sol quente
Destroçando as dores
De encontro a minha felicidade aparente.
Caçador, penetro na selva
Com golpes de saudades
Destruo os sonhos que me levam
(sonhos que não dão trégua)
sarcástico, novamente adormeço
no tempo,
despertando dentro da tua era.
Refaço os meus passos, passo a passo
Acompanhando o cortejo dos aldeões.
É o mesmo canto, no mesmo compasso
Que eles cantam e recantam nas procissões
(canções crentes daqueles que têm
um deus sem cansaço)
lavo o rosto na mesma fonte
olhos os olhos n’ água estendidos.
Sou eu mesmo me ferindo.
Ouvindo o canto de olvidar,
Aproximo-me do teu golpe
Outrora desferido, lento lento
Como se no ar causasse morte.
Meu sangue claro derramado nos lençóis
O verso inacabado sobre a mesa.
Sobre a cama, observando, teus olhos
Derramados sob a cabeleira.
Entro. Termino o verso
Alucino meu canto
Desmaio, me ergo e saio.
Nos teus olhos, nem lágrimas nem nada
(apenas a beleza aparente de quem tem
um belo canto desferindo golpe de harmonia)