ASCENÇÃO
ASCENÇÃO
Os homens escalavam os mais altos promontórios.
Atrás deles ia ficando um vazio difícil de ocupar.
Subindo, deixando atrás o vazio inocupável.
Atingiram nuvens claras, não as tocavam
Por serem fluídicas: encheram as mãos de nada.
Procuravam. Não sabiam o quê.
Caíam alguns. A maioria. Os filhos locupletavam
As vagas; recarregavam as almas de experiência.
Abastecidos de uma fúria de demência,
Quebravam as unhas na penosa escalada.
Abaixo deles, ficava o nada.
Aprenderam com os erros. Erraram em novas ocasiões.
Foram subindo, escalando.
Massacravam-se para chegar
Atingir o ponto mais alto.
À medida que subiam
As montanhas cresciam.
Mais brancos ficavam os píncaros,
Mais enganosas as alturas.
Eles não ouviam
As montanhas que riam.
Riam do nada acima
Do nada abaixo
Os homens, entre as duas imensidões
Desesperavam, matavam-se.
As montanhas riam
Repletas de nada.
O que me faz feliz, nessa escalada
É descansar durante a caminhada.