AS MENINAS DA RUA AURORA
AS MENINAS DA RUA AURORA
São Paulo
As meninas da rua Aurora
Têm os seios de fora
Têm as pernas de fora
Têm o sorriso cansado dos abraços noturnos
Elas gritam nos bares
Amam os sem nomes
Morrem tuberculosas defendendo seu homem
As meninas da rua Aurora
Entregam-se, se vendem
Perdem-se nas madrugadas com as pernas de fora
Com os olhos de fora
Odiando a aurora que chega de fora do mundo
Quando as meninas podem dormir e sonhar.
As meninas da rua Aurora
Têm nomes falsos
Cílios falsos
Têm o corpo prostrado do amante diurno.
Elas não ligam aos azares
Morrem aos pares
De fome, de ódio, de amor e morte inesperada.
As meninas da rua Aurora
Têm os corpos de fora
Usam brilhantes falsos
Corpos falsos e odeiam a cinco horas da madrugada
Que invade a paulicéia desvairada
Que as leva para seus homens
Que esperam, que velam
Que aguardam, destratam
Que fumam
Que chingam
E as comem.