ARREMESSOS
ARREMESSOS
Ficamos esperando
com olhos repletos
de pedras e nuvens
Suspensos na esperança
de asas e suspiros
chagas, rum e risos
Ficamos tontos
inebriados da tua altura
de falas sopradas ao vento
Sacrifícios de todos-os-dias
mortes diárias
disparos certeiros
O céu repleto de desafetos
Bom-dia
Ficávamos esperando
no mormaço de setembro
já abrasados
exaustos
sobre tetos rústicos
como rudes eram as mãos
que inventavam levezas
da nossa aflição
correndo com os olhos
entranhados de quartzo
bufando sonhos
copiosamente derramados
Ficávamos aguardando
que tu denunciasses algo
que revelasses, talvez, salvação
E tu, asas enrugadas
te atirando consecutivamente
da mesma pedra
ao mesmo chão (sonho?)
obrigando-se após
a vã escalada
a lançar-se de novo
Tu, asas cansadas
apoiado na pedra abismal
ficavas a contemplar
o vôo que não atingirias
a distância que não cobririas
nunca
Nós? Esperávamos suspensos
entre a desfé e a esperança
no outro lado do abismo
braços estendidos
a cada investida tua
para amparar-te
e nunca, nunca
(os olhos ainda esperam
as mão é que não constroem mais nada)