ALMAS
ALMAS
O que não falo
Queima o palato
Incendeia meu silencio
Que arde lentamente.
A voragem das chamas
Devora minhas florestas
Esturrica caules
Faz cinza das folhas.
Sem ar, fotossíntese
Sou apenas sinônimos
Desesperados de luz
De ar, transpirar e arder.
As falas não ditas regressam,
De esporas afiadas, à morada
Montando cruéis minha alma
Que, sempre serena, sucumbe cansada.
Seus relinchos são de dor e revolta
É assim que ela se ergue
Carregada de ódio e soluções
Sem músculos e cheia de atenção.
Seus cascos aprumam as ancas
As orelhas aprontam lanças argutas.
Minha alma é pura rebeldia
Erguendo-se da carcaça vazia.
Minha alma é pura greve
Geral e permanente de liberdade.
Seu galope rompe a carne
Seguindo para a cidade.
Galopando, célere, não percebe
Que o que não falo a segue
Como se fora pequeno baio
Cavalgando sem decisão.
A montaria do corpo pouco
Abisma-se com a hípica demonstração
Da alma decidida
Que não mede cerca nem lamentação.
Entre tantas outras montarias
Vê-se minha alma desprotegida
Com mil laços lançados
Em busca de nova garupa.
Como é difícil uma alma alazã!
Galopa plena e altiva
Abandonando a cavalariça
Do corpo que contempla e abisma
Corcoveia, renega seu dono
Sugere abandono e vai,
Dorso suado através do pasto
Rompendo em novo parto.
Quando, crinas revoltadas
Olha de cima do platô
Para as almas conformadas
Relincha-se e alinha-se a seus iguais
Que cavalgam para longe
Sem cercas, prisões, generais
Em alegria tão natural
Que o corpo sucumbe.
Tine quando cai.