AS ARARAS CHEGARAM...
As araras chegaram...
Sua penugem azul
Reflete o sol,
Como o capô
Dos carros;
No alto da macaúba,
Conversam despreocupadas,
Em códigos que não consigo
Decifrar.
Estão famintas,
Devoram os frutos maduros
Com pressa e estardalhaço,
Dependuradas nos cachos;
Estão cansadas,
Dormitam nas folhas macias,
Embaladas suavemente
Pela brisa;
Não se incomodam:
Com o barulho incessante da betoneira,
Com a buzina escandalosa do caminhão,
Com a música alta do carro de som;
E quando despertam,
Desfazem o acampamento
E retomam a viagem,
Que nem ciganos.