A BUSCA

A BUSCA

Não procures poesia em nada,

Minha cara

Que não há poesias em coisas;

Em objetos, panfletos;

Homens, vivos ou mortos

Morrer por ideais ou idéias

Nada se constitui em/de

Poesia.

Não caces a poesia

Com as armas dos homens

Que ela não tomba

Como a caça na mata

Nem consagra seus dias

À lide do caçador.

Não vejas poesias nas faces

Dos que andam nas ruas

Envolvidos por suas solidões

E tristezas imediatas.

Não lhes veja poesia nas faces

Posto não ser a poesia

Utensílio, rouge ou rímel

A sombra nos olhos.

Não trabalhes a poesia em tua

Mesa, onde confeccionas o teu pão

Que, assim, destitui-la-ás

De todo sentido e perigo.

Não confundas a poesia dos dias

Com os deveres e obrigações

De esposa diária, mulher noturna:

Poesia não carrega anseios de orgasmos

Não procria poesias.

Não, nunca as poesias.

Nada, nada nela.

Então, que faço eu,

Mulher solícita,

Nos papéis e folhas soltas

Por dentro das gavetas

Cheirando a alfazemas

Para evitar as traças?

Construo intimas inutilidades?