colagem
colecionava cores
preto e branco:
não valia
verdes, guardei
menos o verde dos olhos de Maria
que era zinha
que era verde
que era minha
azul
e cinza
a tarde
era verde
a vontade
a grade
a porta
o portão
aberto
decerto
a boca aguada
a enxurrada
já tarde
bem tarde
pra inventar
malícia
e jurar
que não
se podia ir embora
- a essas horas?
e não se ia
mas era só
desejo
vontade
vertigem
miragem...
devia
ser só
amor
mas ninguém sabia
em tempos aqueles
ninguém amava
pois que hoje fosse
ninguém também não saberia
do verde
dos olhos
da voz em vogais
oh Deus!
quero um calmante
um uísque
um tango
um chico
um excitante
um gim
um vício
uma prece
em latim
um instante
e um semblante de paz
de pé
outra vez
de vez
eu sei
esquecer sozinho
remediar a falta
que nunca ninguém me fez
mentira!
não era Maria
nunca foi Maria
nem zinha
nem verde
nem minha
nunca devia ter sido ninguém