ciclo

colhe um pouco de mim

mas de uma parte de mim

que não me chegue a doer

e me lave e me leve

e me livre de mim aos sábados

numa banca de feira qualquer

ou então me crave os dentes

e me grave e me beije e me grife

em mim a dor de minha podridão

depois me cuspa, me odeie e me esqueça

na calçada de uma esquina qualquer

daí um desavisado voador de asas incolores

virá colher minhas sementes no chão negro

pra logo depois também me cuspir

mas em terra fértil

pois que ressurjo, renasço

para mais uma vez me deixar colher

me lavar

me levar

me deixar

me cuspir

esquecer

e sempre

e tempos e tempos

e tempos tantos

assim

até que eu não sinta mais dor

Capiau da roça
Enviado por Capiau da roça em 05/07/2012
Reeditado em 07/07/2012
Código do texto: T3762589