O silêncio do poeta
Breves instantes de feliz brandura
de passageira perfeição e riso.
Bocados conseguidos de paz e realização
imponente momento de lucidez
hino curto de silenciosa poesia
choro sem prantos nem ruídos
mares mansos sem ondulação...
Homens justos
que dormem as noites
sem cumplicidade ou medo...
futuras mães que se deslocam felizes
preocupadas
misteriosas...
Roupas que secam num varal
brancas,caladas e inofensivas
leves brisas
que fazem desprender
folhas secas dos ramos rugosos...
Folhas que são pisadas levemente
pelos passos dos velhos...
Crianças que brincam
com o alheamento próprio dos inocentes!
Homens que se alheam
brincando inocentemente com a existência...
Existências inexistentes
sem peso
sem palavras
sem sonhos
sem gritos
sem serem...
Poetas que rimam com fé...
Que choram imbecilizados
embrutecidos
e machucados...
Mas sempre com fé
sempre poetas
sempre sonhadores
sempre criativos
sempre sendo
existindo
falando
gritando...
Gente emocionada que observa
e sofre desmedidamente
olhando a triste realidade que os circunda...
Da qual não fogem
não simulam fugas
e não inventam desculpas...
Gente sensível que fica em silêncio
que lhe entende a linguagem
e que sabe conversar meigamente,
com o vazio que é forjado
pela passagem dos que não entendem o silêncio
que nada tiram dele
e que o temem
por ele ser capaz de lhes revelar
tudo o que não seriam capazes de encarar...