Vento.

Vento...

Vento!

Que passas altivo em turbilhão

que uivas nos fios de alta tensão

que tornas fria a minha mão

que sacodes as folhas do meu coração

que me deixas com medo e carente de afeição

que a um silvar mais forte fazes-me pedir perdão!

Tu transformas a minha vida,tens esse condão!

Vento...

Vento!

És uma criança que passa célere e assustada

és uma mãe triste e desesperada

és um pedinte com a tristeza na face estampada

és a voz de um mendigo gemendo calada

és um homem com pressa pela hora marcada

és uma chiclete no chão,depois de mascada

és a revolta da natureza devassada!

Vento...

Vento!

Tu és a lágrima que eu choro

tu és o palácio onde eu moro

tu és a mulher que eu adoro

tu és o meu odor, inodoro...

Tu transformas a minha vida!

É contigo que eu namoro...

Jacinto Valente
Enviado por Jacinto Valente em 10/02/2007
Reeditado em 18/02/2021
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