Naufrágil
No derradeiro porto
queimei
meus papéis
meus pensamentos
recusavam
capitão
lancei-me
ao mar em busca
de tesouros
cais seguro
longínquo deixei
para trás.
Velejava correntes
remotas e frias
mas o senhor
das águas profundas
assumiu com tempestade
o timão aleatório
tufão veio comigo
brincar.
À deriva agarrei-me
à uma tábua
aos céus
implorava
por salvação
quando ouvi
um canto
de deusa doce
voz
marinha a me chamar.
Óh deusa
dos mares
sedutora!!
náufrago
suplicante
gritei:
- Não permitais que eu me afogue!
- Encerrai meu desditoso penar!
Atraído
para o abismo
imenso onde
o astrolábio
não funciona
aquele canto
puxou-me
para além
longe
da revoltosa
arrebentação.
Olhos
cor de esmeralda
a boca
macia
negros
cabelos
aladas
palavras
dissimulavam
profundos
perigos
uma esquadra
inteira sucumbiria.
Rendi-me
àqueles doces
encantos
divina miragem
tomou-me a retina
noites dias estações séculos...
estive entregue
ao seu olímpico
manjar.
Mas
um perene
naufrágio
insistia
em marejar
em meus olhos
vagas traziam
sussurros
distantes
fazendo ressacar
doloroso
o meu peito.
Até que a lua
inundou-me
de mar
sem demora
zarpei antes
da última estrela
passageiro
embarquei
no transitório
oceano para
meu desumano
devir
sozinho
singrar.