Naufrágil

No derradeiro porto

queimei

meus papéis

meus pensamentos

recusavam

capitão

lancei-me

ao mar em busca

de tesouros

cais seguro

longínquo deixei

para trás.

Velejava correntes

remotas e frias

mas o senhor

das águas profundas

assumiu com tempestade

o timão aleatório

tufão veio comigo

brincar.

À deriva agarrei-me

à uma tábua

aos céus

implorava

por salvação

quando ouvi

um canto

de deusa doce

voz

marinha a me chamar.

Óh deusa

dos mares

sedutora!!

náufrago

suplicante

gritei:

- Não permitais que eu me afogue!

- Encerrai meu desditoso penar!

Atraído

para o abismo

imenso onde

o astrolábio

não funciona

aquele canto

puxou-me

para além

longe

da revoltosa

arrebentação.

Olhos

cor de esmeralda

a boca

macia

negros

cabelos

aladas

palavras

dissimulavam

profundos

perigos

uma esquadra

inteira sucumbiria.

Rendi-me

àqueles doces

encantos

divina miragem

tomou-me a retina

noites dias estações séculos...

estive entregue

ao seu olímpico

manjar.

Mas

um perene

naufrágio

insistia

em marejar

em meus olhos

vagas traziam

sussurros

distantes

fazendo ressacar

doloroso

o meu peito.

Até que a lua

inundou-me

de mar

sem demora

zarpei antes

da última estrela

passageiro

embarquei

no transitório

oceano para

meu desumano

devir

sozinho

singrar.

Gilberto Ricardi
Enviado por Gilberto Ricardi em 05/07/2012
Reeditado em 17/10/2012
Código do texto: T3761661
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