Desejo obsceno
Abraçado ao tronco de poeira
Com os olhos perdidos no tempo
Sem voz para gritar
Passeando por uma praça de guerra
Morto como morto
Caminhar para caminhar
Procurando para encontrar
Um lugar para morrer
De joelhos, não para rezar
Com os olhos trêmulos
Louca para cair
Sobre a poeira do tempo
Rocha pesada nos ombros
Faminta por um descanso
Observando o mundo apático
Deitada desejando a morte
Filha de um cego andante
Querendo prova de amor
Procurando um beijo na terra
Pedindo perdão de um pecado ao santo
Olhos úmidos de sangue
Faminta por água na boca
Desejo obsceno
Deitada ao sol para pagar os pecados
Fantasia obscena de um padre
Que reza a missa aos domingos
Pedindo perdão para os pecadores
Dormindo, chora pelo desejo pecador
Celebrando a união de dois corpos
Autorizando o beijo à frente dos convidados
Abençoando as alianças de ouro
Na certeza de um adultério futuro
Sagrada hóstia para os comungandos
Trilha escura para chegar
Um beijo aos pés, deixa-os comovidos
Bons, são os de boa fé
Feliz ao aconchego familiar
Bebendo a água sagrada pela sede
Um sono na tarde quente
Livre de sonhos obscenos
Convite louco te leva ao delírio
De joelhos reza ao oratório de uma santa
Sente como uma criança
Livre dos pecados
O sono feliz não acorda com os gritos do sofrimento
Beijo no rosto postado na cama
Pede benção para o novo amanhecer
Abraça o corpo do santo
Pede perdão pelo desejo obsceno
Chora sozinha sua culpa
Abraça os fiéis
Como uma donzela, reza o terço na noite