Sonho de sonhar sozinho
No rastro dos cometas
Palmilho o caminho
Com as extremidades dos dedos
Tento desesperadamente
Colocar por sob a blusa
As finas riscas de luz
Quero roubá-las
Pois assim será possível cavar
Cavar e cavar as rochas dos princípios
Liberar as cascatas
Hospedar-me nos campos da perfeição
Este o meu caminho
Por onde sigo com o meu sonho sozinho
Dizendo ao manto de azul
Segredando ao vento
Livre e indefinível
Como se eu fosse a resolução do absoluto
E do tempo
Eu e o meu sonho de sonhar sozinho
Não a estrada
Simplesmente caminho
No qual perder-me
É tomar o supremo vinho
Enredar-me ao extremo
Pelo meu amado caminho
De mãos dadas com o meu sonho
O meu sonho de sonhar sozinho
Ando devagarinho
Esmagando fícus
Sustentando nas árvores as folhas
Avisando ao pardalzinho
Que me satisfaz seguir
Na inocência de não tocar o sonho
O meu indisponível sonho
De sonhar sozinho
Invariável manhã de primavera
Penteia os cabelos do meu
Paradoxalmente povoado
O meu despovoado caminho
Quando o inverno visitar meu sonho de sonhar sozinho
A chuva escorrerá pelos troncos
Nada mais verei
Os pássaros da tarde perderão seus ninhos
Mudos restarão sobre o meu peito onde repousa
O meu sonho de sonhar sozinho