A FLOR DO RIACHO

Cansada de se mirar na corrente,

A flor tinha um desejo,

Desprender-se do galho, um dia,

Para conhecer a grandeza do mar.

O vento, sabedor do sonho,

Balançou o galho com força

E lá se foi a florzinha

Pela correnteza levada.

Chegou ao destino, descuidosa.

A grandeza do mar a engolfou,

Tenta, medrosa, sobrenadar

Mas, grandes ondas teimosas,

Levaram-na da superfície ao fundo

Da alma do gigante

Com quem um dia sonhou

A flor da beira do riacho.

Sentiu-se triste, enganada,

Não era o grande mar

Como diziam os poetas, pensou,

Tentando fugir das ondas.

Flutuou em brancos véus...

De repente a calmaria

Fora lançada na areia

Da praia desconhecida.

Olhou para o céu, viu a lua

Brilhando em reprimenda:

Por que ela não se contentara

Com a segurança do riacho?

Exangue lembrou dos dias

À beira do riacho distante

Onde podia se admirar

No espelho da límpida água.

Ao primeiro claro d’aurora

Ouvido foi o último suspiro

Pelos seixos e pel’areia,

Da flor da beira do riacho...

08/05/05.