FELINO
Fujo de medo da ilusão certeira,
que dá na gente uma desilusão,
ao ver que a coisa por aqui é passageira,
e somos tantos nessa condição.
A multidão vai caminhando sorrateira,
desce a ladeira, e nesse terreno abissal,
vai todo mundo sem eira nem beira,
feito ventania em dia de temporal.
A coisa é louca, não tem pé nem cabeceira,
resta a fé na padroeira, procissão no milharal,
quem tira embira, em terço nunca se preza,
de que adianta tanta reza pra viver se dando mal.
Os malefícios dessa vida abomino,
aprendi desde menino minha prece, meu cantar,
mesmo à deriva vou traçando meu destino,
esse meu jeito felino nem Freud pode explicar.
Saulo Campos- Itabira MG