CHOREI

Chorei. Confesso sim, chorei...

Ouvindo soluços enlouquecidos dos feridos,

torturados, denegridos, agonizantes, mutilados.

Ecoavam por toda parte, entrecortados gemidos

Sussurravam por clemência, os desgraçados.

Eram gente, ironicamente iguais ao seus carrascos

Com a diferença que um lado tinha o poder das armas

E o outro era apenas o oprimido, os caçados.

Todos seres humanos com empenhadas almas!

Desde antes do Caim bíblico o ego mata,

Destrói, corrompe, avilta a dignidade,

Muda homens em bestas, ninguém escapa,

Morre o justo e o ímpio, sepulta a verdade.

Fiz companhia aos que gritavam, moribundos,

Vi as atrocidades pelos que se auto-proclamam:

Senhores da ordem e justiça neste vasto mundo,

hediondos déspotas que a ambição inflamam.

Guerra!!! Mortandade!!! Genocídio! Assassinato!!!

Leis infames de homens sem honra ou senso moral

Governam seus países como se atuassem no teatro!

Semeiam miséria e fome como se isso fosse natural.

Sim, eu vi...lagrimas de ódio nos rostos das crianças

Órfãs das muitas batalhas entre a cobiça e a ganância

Vidas marcadas bradando aos céus pela morte da esperança

gente massacrada como se não tivesse importância.

E eu gritei...ajoelhei na terra vermelha de sangue

E gritei bem alto: - “Onde está Deus...onde está???”

Ouvi murmúrio dos nauseabundos lábios exangues:

“ELE habita no coração dos homens que O deixam entrar.”

Chorei...confesso que chorei, sim.

Pela vitima e pelo carrasco que eu estava ali, a olhar,

Triste quadro a minha frente, triste fim

Mas chorei muito mais por mim

Quem sou eu afinal...para julgar

Aquilo ou aqueles que nada faço pra mudar?