Maria

Maria,

na folha branca da lua

escrevia o teu nome

você brincando, Maria

com a minha infância

teu gosto pulsava

na noite que entrava pela janela

e por onde você entrava

trazendo a brisa sussurante em seu cabelos,

trazendo teus lábios

e o teu cheiro para as noites repousarem o

poema do teu corpo nos

farfalhantes lençóis despidos da cambiante cantiga

vestidos da nossa nudez,

das nossas carícias

na noite quente

quieta

rompendo farta de estrelas

se espreguiçando desnuda

subitamente se fazendo amor

Da janela vinha a madrugada

junto com meus sonhos de menino

e este canto que era o meu amor por você,

Maria

os versos que eu não sabia, Maria

estavam dentro dos teus olhos,

na tua pela morena,

na tua boca pequena onde o beijo

sabia coisas demais

sabia mordiscar o meus lábios,

beijar a minha nuca,

o pescoço,

sugar-me os dedos com vagar

soprar-me o rosto com seus desejos cúpidos

na noite distraída e singela

onde a janela aberta se esparramava

esperando pelas tuas pernas

que a pulavam tranzendo o teu verão

para me envolver

trazendo o teu mar

a tua ilha

trazendo a praia de tarde

e um sol vermelho dizendo obscenidades

para os meus quatorze anos

teus seios pedindo agoras

beijos

demoras

os bicos duros

delicados

o teu desejo na minha boca

A noite dormia e acordava e dormia...

e no meio da madrugada sininhos

dobravam as palavras que eu não te disse

não por que eu não quisesse, Maria

mas era por que eu não sabia,

eu nada sabia, além do beijo,

além dos nossos corpos deslisando nos suores

das noites de verão e de janela aberta

para o sonho e para o céu,

depois do amor as estrelas sortidas,

curiosas,

se confundiam à tua cabeça em meu ombro

Nas madrugadas a poesia se fazia, Maria

mas eu não sabia ler a tua mão na minha,

o calor bom do teu corpo,o enredo no teu olhar

e a perna que resvalava sobre a minha

numa carícia de menina

dizendo poemas

hoje eu sei: tuas pernas declamavam poemas

enquanto uma pequenina lágrima

gritava para ti o meu amor

escorrendo pela face com este gosto de sal

com este gosto de beijo entre as pernas,

gosto de afeto e mimo,

gosto de afago e saudade

do segundo que mal acabou de passar

Como te amar, Maria,

aos quatorze anos?

Se pelo menos eu me perdesse de mim

em tudo que não te digo

se eu soubesse o teu cheiro a me encantar

se eu soubesse dos caminhos da névoa que evolam poemas

Maria,

naquele dia te perdi para a síntese do "não"

ah! se eu soubesse, Maria

que o amor vale muito,

muito mais que um milhão de palavras ditas sem o respectivo ato

que mais que você queria, Maria?

além do tempo que não chegou,

além da emboscada refestelada,

da página em branco onde pode-se escrever qualquer coisa,

inclusive o enredo da tarde esfarelada do "não"

Maria, depois de ti ainda abro as janelas,

mas não tem mais madrugadas

nem o possível pecado de entrares por elas,

e me abraçar

e deitar minha cabeça em teu colo

e docemente me amar,

Maria