Letra



Letra amiga! Conta o que penso,
O que sinto, as perguntas que tenho...
Move tua boca, beijando as frases
Que são e transbordam da alma!

Estrela imensa, silente, cadente...
Muda a paisagem da alma ardente
Trazendo a lanterna que tanto alenta
Porque o caminho ilumina atenta.

Devolve a inocência da paz
E como tocha, um braseiro,
Espera o guia solitário, prisioneiro
E envolta em luz, diz-lhe que é capaz.

Amiga, alonga teu braço, e cubra-me,
De mantos. Acaba com as sombras.
Cala os gritos de agonia, do pranto
Que fere como espada o meu canto.

Formosas, ditosas, mesmo sem amor,
Mesmo calada mostra-te ao mundo,
Mostra o segredo das meninas, estrelas
Do mar, da terra, dos sons mudos.

Sonora, cai sobre o branco banco
Cai sobre o colorido do jardim.
Derrama teu pó e o vê brotar jasmins,
Vê voar os pássaros sobre mim.

Transpõe esse todo rio imaginário,
Burla a séria tristeza do ser primário,
E desvenda rápido o mistério, desfeito,
Guardado a sete chaves no peito.

De olhos pequenos, aromáticas, sagazes
Com retas e curvas avança serena e segura.
Invade, sem medo, seres engessados, capazes
Que descobrem na tua semente a grande ventura.

Ama o vento e também o azul do céu,
Cruza pontes com grande rubor
E não duvida que mesmo um réu
Procura-te no silêncioso catre com ardor.

Lembra dos mortos, lembra dos santos.
Com os sentidos repletos de flores
Na lápide de paz, que enche o campo
Da cidade adormecida de rumores.

Refúgio de muitos, de muitos laços,
esconderijo de ilusões em doces asas
ao mundo vai mostrar todo o compasso
da melodia, da dança, em apertados abraços.

SP, 29 de janeiro de 2006,
domingo