Silêncios adormecidos

"Além da estrela"

"Além daquela estrela o que é que existe?

Será que existe alguém assim tão triste,

será tão triste, assim, o céu de alguém?"

(Ronaldo Cunha Lima - Breves e Leves Poemas)

A tarde doura os montes, as árvores e as casas

em seus passos derramando-se para a noite

que em versos é a sombra das minhas lembranças

é a tua presença no sinete do esquecimento,

nos meus sonhos,

na saudade.

A tarde, quieta e calada, doura os instantes

dos pássaros no arvoredo

doura os meus sonhos absortos no meu medo.

A vida brinca de infância no dourado da tarde.

Na tarde inalcançável dos teus olhos

a primeira estrela caminha para a minha noite

A primeira estrela acende a minha noite

e as casinhas, esquecidas no ouro de um sol plangente,

vão se apagando da visão

em seus silêncios adormecidos no

canto dos pássaros que se calaram

e já não dizem o teu nome

e nem destas tantas coisas que, talvez, sejam poesia.

A lua nova e a ternura,

o sol mergulhando no ocaso,

já não trazem tua boca orvalhada de manhãs para eu beijar

Os fios dourados da tarde douram

as curvas do horizonte

e vão povoando os céus,

vão dando nomes às palavras antigas

que o crepúsculo dita à emoção,

num tanto de eternidade,

num tanto de solidão

A estrela, trêmula e triste, detém

meus olhos no espelho de esmaecidos tempos,

de luas que me comovem,

onde meus abraços eram mortes tão banais

na insustentabilidade infatigável do Tempo,

ávido punhal,

argênteo fogo,

entre as cinzas da noite

que o vento sopra dissoluto

nas vazas sutis que se desfazem

em fragrantes vermelhos

Na tarde molhada por sigilosa tristeza

as palavras tiritaram silenciosas.

A indiferença disse, um a uma, as palavras

que viveram nos teus lábios

e que no tempo, inexorável e incognoscível,

misturaram-se à garoa de gotas frias e solitárias

de um retalho de primavera oscilando no horizonte.

A poesia me ouvindo,

entre palavras cravadas na pele

de um novembro sem memória,

inventou o lamento onde te procurei,

inventou com vento e bruma um céu triste

e de ilusórios segredos morosos

para um amor que não resistiu

à passagem dos dias

e dos versos caidos nas páginas em branco,

comovidamente

mudos