GABRIEL
Gabriel, menino dos cabelos cacheados
Como ondas de um mar desejado
Onde outros meninos surfam tranquilos
Em pranchas feitas de presente e meiguices,
Vem e deixe-me abrigar em teu colo farto
E te devolverei a pipa que nunca roubei de ti.
Gabriel, menino dos olhos adultos
Cheios de uma inquietação infantil
Onde eu, homem, aprendo a ser menino,
Não se preocupe com o raio cruel e ruidoso
Que queimou a televisão velha e cansada
No dia em que a chuva te fez adormecer.
Gabriel, anjo de novo encarnado, aqui bem perto,
Na pele doce herdada do cantador negro e luzidio
E da branca mãe que zela pelos teus tenros passos,
Vem, deixe-me adormecer no teu colo, ouvindo a chuva
Sem que eu me amedronte com os trovões e os raios.
Vem Gabriel, vem velar o meu sono atribulado!