Saudades
E não é sempre que doo
E não é sempre que sinto
E agora que sinto, na mais fúnebre das dores
E agora que doo, na mais suicida das pestes
Agora que abortei
Agora que degluti
Volto a doer
Volto a sentir
Sem defesas
Voltei a sentir
Saudades
E tua falta me enforca
Me sufoca
E nos sufocos de teus ósculos, clamo por mentiras
Nos calores de nossos corpos, rezo por sonhos
No frio de minha solidão, almejo a morte
E isso me torna poeta
Melancólico teu poeta
E busco-te
Dentre as velas enceradas deste epitáfio gélido
Nas tácitas, e como tácitas, lágrimas que custo a chorar
Nos choros que custo a confessar
Nas fraquezas que confesso
E lembro que doia
E tenho saudade dessa dor
Saudades de te tocar
De te sentir em mim
De me sentir mentir em ti
E mil vezes mentir
E não é sempre que amo
E não é sempre que sinto
Não sei se sei amar, se minto saber que amo ou se amo saber mentir
Sei que te quero aqui
De verdade
Sei que hoje senti tua falta
E não é sempre que sinto
Mas toda vez que sinto
Morro