Profissão de fé
nessa nossa ânsia por mais espaço
para que o verbo - ávida ave, pássaro -
encontre no leitor o perfeito ninho, regaço
é que, mesmerizados sobre o verso,
entregamos-nos na lida vã do controverso
- o escrever, que é não-escrever, do poema
sempre a mesma angústia, dilema
que não cessa nem se encerra depois
dessa coisa amorfa e problemática
e sonora e luminosa, fonema
que consome nosso tempo, sanidade
com seu intrincado sintágma, enigma
nessa nossa ânsia que já não é nossa
vinda de uma voz veloz e indizível, fugídia
o desejo desesperado de se despejar
sobre o mundo, de inundar o mundo
com a torrente marinha, verbo
de matar a sede e de se afogar, poema
Jaguariaíva, 18 de Junho de 2012