Desenhei a noite

Desenhei a noite

com sonhos usados

velhas palavras

ruínas de um velho dia

Desenhei a noite

com dobres de sinos

versos sonoros e desnudos

e o vôo de andorinhas rumo aos ninhos

Com as (poucas) roupas da meretriz

eu desenhei a noite

toda cheia de cores,

sonhos,

perfume barato,

uma lua carmim,

e com as lágrimas que se escondiam

nos olhos nus da poesia

que o corpo da meretriz declamava quando nu

desenhei a noite

e os cenários infindáveis da solidão

Desenhei a noite

com um gosto de passado,

de tempo perdido,

com gosto de engano

Desenhei a noite

com o sentimento morrido

com teu nome sussurrado pelo mar

e as lembranças adormecidas esperando o teu olhar

Com o pranto a me chamar

eu desenhei a noite

toda cheia dos teus olhares,

desencanto,

quieta loucura,

e com o desespero que se escondia

na hora sozinha do escuro adeus

na fuga dos passos andarilhos do amor

desenhei a noite

e os cenários indecifráveis de uma dor