da necessária presença
é engraçado como todos se prestam sempre a dizer
da minha condição de necessária presença
e me querem ouvir sobre o tempo
se chove, se faz frio
se devem plantar rosas ou margaridas
me querem perto para um riso fácil
para um aperto de mão sincero
e um olhar acolhedor
e dizem de uma aura, de um chamado em mim
que faz de mim necessária presença
pois que meus braços protegem
do maltrapilho ao que se doura em linhos
e meus pés caminham lado a lado
em esquinas, beiras de morte e abismos
todavia, todos que se prestam a me exigir presença
a me certificar e a gritar ao mundo
da minha tão necessária presença
quando, por mim, se dão a saber do tempo
e se escondem do temporal
e se agasalham do frio
e as rosas surgem
e as margaridas sorriem
todos, quando já se dobraram de rir
e se sentem acolhidos
escorregam-me dos olhos
desenlaçam-se dos meus braços
e se vão
e não há aura
não há chamados que os façam voltar
fica-me a sensação de estupidez
de inutilidade e inocência
sempre, sempre e sempre
mas não ligo
quando se vão
deixam sempre uma estrada enorme
noturna e sem ninguém
e uma lua imensa e sempre minha
a me brilhar
a me acolher
com sua fiel, eterna e tão necessária presença