da necessária presença

é engraçado como todos se prestam sempre a dizer

da minha condição de necessária presença

e me querem ouvir sobre o tempo

se chove, se faz frio

se devem plantar rosas ou margaridas

me querem perto para um riso fácil

para um aperto de mão sincero

e um olhar acolhedor

e dizem de uma aura, de um chamado em mim

que faz de mim necessária presença

pois que meus braços protegem

do maltrapilho ao que se doura em linhos

e meus pés caminham lado a lado

em esquinas, beiras de morte e abismos

todavia, todos que se prestam a me exigir presença

a me certificar e a gritar ao mundo

da minha tão necessária presença

quando, por mim, se dão a saber do tempo

e se escondem do temporal

e se agasalham do frio

e as rosas surgem

e as margaridas sorriem

todos, quando já se dobraram de rir

e se sentem acolhidos

escorregam-me dos olhos

desenlaçam-se dos meus braços

e se vão

e não há aura

não há chamados que os façam voltar

fica-me a sensação de estupidez

de inutilidade e inocência

sempre, sempre e sempre

mas não ligo

quando se vão

deixam sempre uma estrada enorme

noturna e sem ninguém

e uma lua imensa e sempre minha

a me brilhar

a me acolher

com sua fiel, eterna e tão necessária presença

Capiau da roça
Enviado por Capiau da roça em 16/06/2012
Reeditado em 03/08/2012
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