MÁSCARAS
MÁSCARAS
O passado!... A lembrança... A saudade... O desejo...
No temor de pedi-lo e na glória de tê-lo...
No gozo de prová-lo e na dor de perdê-lo...
Não tocar em quem se ama!
O amor na incerteza de um sonho..
Um silêncio cheio de angústias vagas.
Sob o luar claro as almas brancas
Imerso na sombra e um raio de luar
Tenho ânsias de dormir, para poder sonhar!
Sou alguém, cuja sina foi amar
Nesse altar onde celebro o ritual
Numa noite divina! Ardia nessa chama
Toda a angústia do meu peito que te ama
Se o corpo é essa torre em carne e sangue erguida,
O olhar é uma janela aberta para a vida,
E na noite de cisma, enevoada e calma,
Na janela do olhar se debruça nossa alma
Minha’lma era como a Bela Adormecida:
O teu beijo me acordou para a glória da vida!
Eu amo-te, Pierrot... Desejo-te, Arlequim...
A vida é singular! Bem ridícula, em suma...
Uma só ama dois... E dois amam só uma!..
Meu amor se compõe do amor de todos dois...
Hesitante, entre vós, o coração balanço:
O teu beijo é tão quente... Pierrot
O teu sonho é tão manso...
Pudesse eu repartir-me e encontrar minha calma
Dando a Arlequim meu corpo e a Pierrot a minh’alma!
Quando tenho Arlequim, quero Pierrot !
Pois um dá-me o prazer, o outro dá-me o sonho!
Nessa duplicidade o amor todo se encerra:
Um me fala do céu... Outro fala da terra!
Eu amo, porque amar é variar!
Em verdade toda a razão do amor está na variedade...
Penso que morreria o desejo da gente,
Se Arlequim e Pierrô fosse um ser somente,
Porque a história do amor pode escrever-se assim:
Um sonho de Pierrot! E um beijo de Arlequim!
Menotti Del Picchia
São Paulo, SP, Brasil
1892 (*) - 1961 (+)