Imprecisão

quisera ser preciso

como são precisos os sonetos de Koerig

como o gume de um punhal

e o aço dos olhos de uma última desonra

preciso

como a esquina e sua morte

sob o fiel lume da lua

eu preciso ser como a flor

cuidada por mãos que a sabem de ninguém

como a simplicidade com que Miguel cuida e salva

a princesa-dos-cipós da ruína de um fundo de lago sem sol

quisera ser preciso em cálculos

em gráficos, em trajetos e traçados

preciso em tudo que este mundo me impõe:

o que devo vestir

como devo falar em público

de que lado devo deixar o talher

o que não comer

como não comer

e, como depois de me saciar de poses,

ser preciso na arte de se dobrar um guardanapo

e não mandar todos os fantoches à merda

quisera ser preciso

nas filas de comunhão

nas feiras do sábado

na fé aos domingos

nas desistências das segundas e tantas terças

em alma

em olhos

em mãos

preciso ser

preciso em lentes e cores e graus

e ser reto e preciso

sempre e sempre

até que Ele desista de me escrever tanto

por linhas tão tortas

Capiau da roça
Enviado por Capiau da roça em 15/06/2012
Reeditado em 03/08/2012
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