A MÃO DO TEMPO

A mão estica-se à dama perturbada.

O grito ecoa-se no beco.

Som abafado, não se ouve nada

E o sangue intenso agora é seco,

E corre, com seus farrapos, com olhar incandescente

A multidão a lhe aplaudir,

A loucura invade a mente.

A mão clara e fina não pode sentir

Nem o piano, nem a presa da serpente.

Gira- gira pelo mundo louco

Ao soneto tão sedutor

Que acalma a sua fúria

Afaga o dormente com viva dor.

Corre a dama, com seu mistério

De vestido tão formal,

Desconhece o que é um adultério

Só instinto, natureza carnal

A cada tiro, a cada estilhaço

O piano se solta,

Estridente ao espaço

Sinfonia sem nota, vai e volta

Luz, som, epifania, cansaço.

E ela se vai, esvaindo como a brisa

Uma leve e entorpecida valsa

Mudando o tom e a premissa

Na delirante agonia falsa

Ou na calmaria que enfeitiça

Outro estrondo, mais uma batida

Mais uma voz, mais uma vida

Mais uma melodia é concebida

Outra verdade foi invadida.