um mundo de segredo
se tivesse o olho
se tivesse o olho
que visse tudo...
que varresse tudo...
não limparia a mesa
suja de letras inscritas.
não limparia o sonho
grudado na memória
a solidão que não vai
embora...
se tivesse o olho
que varre não apenas
o assoalho do coro cru
que reveste o baú de lembranças
mas também o forro interno
ainda comovido
Daqueles dias de guerra...
esse olho que salta,
do abismo para o céu
que o poeta o sabe
que uma mãe acorda
um dia com ele, e
que também o sabe
que o apaixonado quase
morre quando perde...
e que crianças o tem
sem medo, porque não
tem medo de perceber...
esse olhar que vê, que não
escolhe o que vê, mas apenas
fascina...
se tiver esse olho como se tem
um carro, um amigo, uma casa
uma coleção de besouros...
se tivesse esse olho que é aberto
como se é aberto o céu de uma
manhã de sol dessas da infância...
se tivesse esse olho...
se tivesse esses olhos...
se tivesse...