da minha alma
Mais que apenas indecifráveis símbolos
me sabes e me escreves e me sentes
e me tomas como de tua alma
duas horas diárias de leitura de mim
me fazes
e eu, míope, nem me enxergo
não me enxergam
não me enxergo além do abissal precipício
que se principia sempre sob meus pés
sem saberes meu toque
se contamino, se apodreço
se me espalho endêmico em quem a mim me tocar
me estendes a mão
limpa
me beijas a mão
e me proteges do sol
E é tudo tão fácil
tão calmo, sereno e certo
e verdadeiro em tua e minha alma
o que dirão os ventos
o que dirá o tempo
o que dirão os que se dizem amados e amantes
nada não podem dizer
que nada nunca dizem
senão que amam e amam e amam e amam
e não amam
e não sabem
não somos nada
não podemos ser nada
não queremos ser nada
além do que já não somos
sabemos
eu e tu
inomináveis enigmas
que já nos decifrávamos em sonhos
sem sequer sonhá-los
já moldávamo-nos
sem nos tocarmos
sabíamos textura e voz
sem nos sabermos
e me disseste de tua alma
terna, tenra e eternamente calma
e tua poesia me veio
tua poesia me vem
e vieste
vindo
bem-vinda
verdade e ventania sobre mim
sabes meu nome
e como sabes meu nome