da minha alma

Mais que apenas indecifráveis símbolos

me sabes e me escreves e me sentes

e me tomas como de tua alma

duas horas diárias de leitura de mim

me fazes

e eu, míope, nem me enxergo

não me enxergam

não me enxergo além do abissal precipício

que se principia sempre sob meus pés

sem saberes meu toque

se contamino, se apodreço

se me espalho endêmico em quem a mim me tocar

me estendes a mão

limpa

me beijas a mão

e me proteges do sol

E é tudo tão fácil

tão calmo, sereno e certo

e verdadeiro em tua e minha alma

o que dirão os ventos

o que dirá o tempo

o que dirão os que se dizem amados e amantes

nada não podem dizer

que nada nunca dizem

senão que amam e amam e amam e amam

e não amam

e não sabem

não somos nada

não podemos ser nada

não queremos ser nada

além do que já não somos

sabemos

eu e tu

inomináveis enigmas

que já nos decifrávamos em sonhos

sem sequer sonhá-los

já moldávamo-nos

sem nos tocarmos

sabíamos textura e voz

sem nos sabermos

e me disseste de tua alma

terna, tenra e eternamente calma

e tua poesia me veio

tua poesia me vem

e vieste

vindo

bem-vinda

verdade e ventania sobre mim

sabes meu nome

e como sabes meu nome

Capiau da roça
Enviado por Capiau da roça em 14/06/2012
Reeditado em 14/06/2012
Código do texto: T3724777