O Casamento da Viúva Negra

Viúvas negras tecendo em fios diamante

E a surdez do mundo não enxerga as raízes

Somente as vespas mortas em casa de marimbondo

E todos os pequenos esvoaçados viram o jantar aracnídeo

Sapos e lagartos em jardins de todas as fomes

Saltitantes vultos semicerrados que assustam os sinais

Entre os semáforos insetívoros desse apetite insaciável

E os estômagos anfíbios já não doem e brilham de labor

E também gafanhotos... Cigarras e esfaimados tracajás

Bebem essa lagoa desesperada de sonhos absurdos

Onde os pássaros noturnos olham com vitrificantes olhos

E as plantações cedem lugar a um mastigar um tanto quanto devorador

Entre todas as cores um pequenino camaleão furtado

Esticador de língua caçadora e apavorante... Mal de gafanhotos

Cores que logram sapos e lagartos na noite desse bacanal

E a viúva negra casa-se mais uma vez para se alimentar

Bacanal noturno entre a surdina de um urutau

Sóbrio em bafo de pássaro velho espera paciente

Todas as vespas alucinadas e fugitivas dessa noite festiva

E num piado surdo segue a festa por entre as frestas desse frenesi

Como dois faróis uma coruja que sabe tudo assiste atenta

E ao léu crepitam pirilampos e mariposas desvairadas

Farto cardápio aos olhos de um cego e torto bardo

Cantando as dores do amanhã e trinando corações lunares

E o amanhecer cala o sol em brumas

Toda a corja se recolhe em folhas matinais

O fungo acorda e dá brilho aos orvalhos comestíveis

Enquanto joaninhas e besouros esverdeados seguem seu espreguiçar

Agora o canto noturno da floresta microscópica cessou

E o sapo dorme estrebuchado em vitórias régias

Já não se ouve os agudos dos grilos em marca passo

Somente um raio solar entre o farfalhar das árvores cintila o meu olhar