Transe de um Trovador

Agarro-me em vento passageiro

E lavo o rosto nessa sagrada fumaça

Que me envolve em tiras de incenso

Nessa visão pálida de Santa Maria

Em revelações aturdidas e caladas

Nessas luzes alegóricas de um arrebento

Agarro-me nessa curva de tempo em céu leitoso

E me desmistifico em cálices de um novo sentir

A flor e a abelha se fundiram em um novo véu

Coroando a rainha e a imperatriz em novas profecias

Ouvindo os murmúrios de todas as guitarras acústicas

Dentro dessa emaranhada sinfonia de luz e sombras

Agarro as oportunidades com meus próprios dentes

Mastigando todos os mundos desconhecidos e insanos

Onde foram feitos os rituais de todas as ervas e sabores

E foram os sacrifícios das videntes que secaram os rios

E a sede assolou todas as imagens refletidas nos olhares

Desses sacerdotes alienígenas que cortam cabeças

Agarro-me ao vento e as cabeças rolam os degraus

Envoltas em baforadas esfumaçadas dos coiotes

Enquanto as crianças adormecem em suas casas

Agarro-me nessa imensa curva temporal e calo

Envolto em penumbras cálidas e diáfanas de um espelho

Enquanto os livros antigos são despedaçados em uma noite fria

Agarro-me a essa oportunidade alucinante de morrer e renascer

Envolto em lendas e mitos folclóricos de um povo já degolado

Enquanto duas galáxias se chocam em um universo paralelo

E a garganta seca de um sertanejo viajante sente a peleja diária

Minha sede e a sua sede são escassas de soluções rápidas

Pois todas as dançarinas foram levadas pelos czares ao seu país

Resta somente um degrau e um violão que chora à lua

Todas as cantigas de um mesmo trovador, entre a fumaça e a estrela;

dormentes em um transe inacessível aos meus olhos e aos seus...