[De Vizinhos]

O vizinho é bom quando é vizinho morto;

quando a gente dá alguns passos até a sua casa

para abraçar a viúva, expressar condolências de araque,

e dizer uma frase habitual, típica dessas funéreas ocasiões.

Ainda assim, só ao depois da saída do féretro

é que terei a certeza de que aquele olhar raso,

e aquele cumprimento inexpressivo, anódino,

não mais me obrigará ao automatismo de respostas.

Ai... que eu, principalmente quando em mim

vige a intolerância, o desprezo pela vida,

a certeza de que os deuses estão mortos,

nunca, nunca seria vizinho de mim mesmo!

[Desterro, 12 de junho de 2012]

Carlos Rodolfo Stopa
Enviado por Carlos Rodolfo Stopa em 12/06/2012
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