[De Vizinhos]
O vizinho é bom quando é vizinho morto;
quando a gente dá alguns passos até a sua casa
para abraçar a viúva, expressar condolências de araque,
e dizer uma frase habitual, típica dessas funéreas ocasiões.
Ainda assim, só ao depois da saída do féretro
é que terei a certeza de que aquele olhar raso,
e aquele cumprimento inexpressivo, anódino,
não mais me obrigará ao automatismo de respostas.
Ai... que eu, principalmente quando em mim
vige a intolerância, o desprezo pela vida,
a certeza de que os deuses estão mortos,
nunca, nunca seria vizinho de mim mesmo!
[Desterro, 12 de junho de 2012]