DEDICO ESSE DIA DE NÉVOA FINA A TODOS QUE SOU
Por tudo que sou
Pelo pão, pelo poema
Pelo sistema
Pela revolução sonhada
Pelo chão onde vivo
Pelos sonhos perdidos
Pelos amigos
Pelos heróis caídos
Dedico a todos esse dia e a alegria
De estar vivo, atento e forte.
Por todos que me habitam
Pelos gens paternais
Pelas mulheres
Pelos amigos
Pelos filhos
Pelos meus planos
Pelos anos todos, perdidos
Na condução lotada
Da fila do banco
Pagando contas
Na espera infinda de melhores dias
Pelas crianças dos morros
E suas casas sem reboco
Dedico essa semana e todo o ano
A esperança de melhores dias
Pelas alegrias sentidas
Pelas músicas
Pelas musas
Pelas ruas do meu bairro
Onde ficaram meus passos
Meu passado
Pelas árvores que plantei
As plantas que cultivo
Pelo leite ralo derramado
Pão com bromato
Roubado no peso
Pelos que me tiram o sossego e o sono
Os insanos e suas gulas
Os capitalistas mesquinhos
Dedico a todos o meu sorriso
E a certeza de que sou feliz
Pelos meus professores
Mesmo os que me espancaram
Pela falta de educação
Do meu País
Dedico minha formação e cultura adquiridas
Sofridamente
Mas pagas à vista
Pelas minhas raízes nordestinas
Pelo destino
De ter nascido na cidade
Franzino e pobre
Pelos meus direitos ultrajados
Pela minha indignação
Dedico a minha luta por mais alegria
Pão e poesia
Por aqueles que me caluniam
Dedico a estes a minha força
Minha fé
Minha insistência
De peito aberto, resisto
E no presente jogo minhas sementes
E alguma poesia