CANTO 31
Foi com a alma incendiada de saudades que resolvi dar um passeio matinal.
O manto da noite estava sendo erguido pelo ouro do sol e as nuvens brincavam de sombra e claridade na festa do dia, quando sai para caminhar um pouco, a soluçar mi-
nha dor.
Caminhei sem medir o tempo, ouvindo o profundo silên-
cio falando nas profundezas do meu ser, despertando a grande e comovedora saudade que sinto de ti...
Andei pela caatinga, a esmo, sem rumo,à procura de um lugar mais aconchegante para alimentar minhas reflexo-
es. Vaguei àquela hora matutina, sentindo no rosto a brisa
fresca, vestida com o perfume virginal das flores da caatin-
ga.
Já cansado, sentei-me embaixo de um velho e respei-
tável umbuzeiro e, saboreando seus umbus maduros que colhi na relva ainda respingada pelo orvalho da noite, que-
dei-me emudecido e melancólico a contemplar o horizonte
banhado de suavidades...
Perdi a noção do tempo. Que representam as horas quando a vida é vazia e nos provoca enfado? Necessitava
despertar para a realidade, e lá estava eu, debaixo do velho
e augusto umbuzeiro, apático, passivo, indiferente a tudo e a todos, curtindo minha dor, solitariamente, com a alma em
brasa.
Deus, por vezes, nos oferece o remédio amargo da so-
lidão, como forma piedosa de refazimento e cura espiritual!