CANTO 31

Foi com a alma incendiada de saudades que resolvi dar um passeio matinal.

O manto da noite estava sendo erguido pelo ouro do sol e as nuvens brincavam de sombra e claridade na festa do dia, quando sai para caminhar um pouco, a soluçar mi-

nha dor.

Caminhei sem medir o tempo, ouvindo o profundo silên-

cio falando nas profundezas do meu ser, despertando a grande e comovedora saudade que sinto de ti...

Andei pela caatinga, a esmo, sem rumo,à procura de um lugar mais aconchegante para alimentar minhas reflexo-

es. Vaguei àquela hora matutina, sentindo no rosto a brisa

fresca, vestida com o perfume virginal das flores da caatin-

ga.

Já cansado, sentei-me embaixo de um velho e respei-

tável umbuzeiro e, saboreando seus umbus maduros que colhi na relva ainda respingada pelo orvalho da noite, que-

dei-me emudecido e melancólico a contemplar o horizonte

banhado de suavidades...

Perdi a noção do tempo. Que representam as horas quando a vida é vazia e nos provoca enfado? Necessitava

despertar para a realidade, e lá estava eu, debaixo do velho

e augusto umbuzeiro, apático, passivo, indiferente a tudo e a todos, curtindo minha dor, solitariamente, com a alma em

brasa.

Deus, por vezes, nos oferece o remédio amargo da so-

lidão, como forma piedosa de refazimento e cura espiritual!

Sertanejoretado
Enviado por Sertanejoretado em 12/06/2012
Código do texto: T3719059
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