Pássaros sintéticos
Retiro o que há no seu canto de comovente,
falsifico seu vôo manipulando a física,
e não gostaria de estar em seu lugar.
Um atentado contra Deus, num projeto elegante,
produzindo anjos animalescos da noite pro dia,
numa abiogênese de engrenagens e baterias.
Então canta, ser anti-natural, portador da tecnologia,
com seus cabos internos, ocultos por penas metálicas.
Entedie ou surpreenda as crianças, que vêm com o dia,
que de nada sabem,
e em meus artifícios pilhados de um inventor encarcerado,
acreditam sem mais perguntas ou vislumbres da heresia.
Há sempre uma secreta e imensa culpa,
pelo deus que imito, na calada da espera.
Isso é ajuntamento de metais e pulsos,
imitando a arte orgânica da natureza muda.
Por isso tão logo nascem as setas aladas,
com suas garras de alumínio e prata,
as permito um voo, na paisagem de diorama,
e as mato, como filhos inadaptados,
causadores da vergonha de minha genética.
O rouxinol a tudo inveja, tão mortal,
do bronze e do aço, o canto atonal,
nascido de uma caixa, onde dança a bailarina....
Mal sabe do mal que minha mão assina,
quando num papel milimetrado desenho
mais um fim para a perfeição mais pesada que o ar.
Que voa canhestramente, e desaba,
vergonhosamente.
Sem nunca, de fato, poder sonhar.
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O que escrevo, escrevo porque quero e dedico a quem merece. E este poema é dedicado à minha grande amiga e incrível poeta, Tânia Meneses, que assim como eu, também constroi seus pássaros sintéticos. Se são bons ou ruins, se são pretensiosos ou não, não é o presente que irá julgar.