UTOPIA
Assusta-me a realidade da distância,
Que nos separa na vida toda e sempre.
Guarda-me-ei a língua na minha vivência
Para que o pecado a minha alma lembre
De que o inferno é cheio de igual pecador
Fisgado até pela língua que fala sem temer;
Flagelados pela vida do grande prosador
Que se foi antes mesmo de um anoitecer.
Assim eu vejo através de uma fosca vidraça
Que o destino me expôs a frente sem escolha,
Roubando-me a alegria, deixando-me à míngua.
Ele condenou meu coração a sorrir sem graça,
rolar no chão como se fosse uma seca folha
Guardando o xingamento através da língua.
DIONÉA FRAGOSO