CANTO 23
Do cardeiro dos meus sofrimentos jamais nascerá
outra flor de esperança, pura, alvinitente, translúcida
e serena.
A esperança foi o Cirinéu piedoso que me ajudou
por tanto tempo a carregar o madeiro pesado das mi-
nhás ilusões.
Qual o sonho de Ícaro, estas ilusões ruíram uma a
uma sem a menor porção de piedade deste desgraçado
peito que as agasalhava, que lhe servia de ninho tépido
e aconchegante.
Não tenho mais coragem, muito menos forças para
tentar outra vez. Para ser novamente incompreendido,
repudiado, pisoteado, eu que já percorri este calvário
crucial, que já sorvi, lentamente, no cálice doloroso das
decepções o licor acrimonioso das desditas, sei muito
bem o que ele representa em termos dolorosos de sofri-
mentos...
Há, sem nenhuma dúvida, em minha alma, imenso e
terrível escaldante deserto de amor...
Amar é dar-se como se é e não se deprimir,violentar-
se para se dar...Quem pouco amor recebeu, é porque pou-
co amor deu.. A nossa capacidade de receber, está em re-
lação direta com a nossa capacidade de dar!...