Espelhos
ESPELHOS
Vi nos olhos, meus olhos;
Na sua boca minha boca;
Não era eu, era um espelho.
Era um reflexo! Sem contexto,
Descontextualizado no tempo passado
Noutro carnaval
Numa folia, não como ali,
Apenas receio, receio...
Receio do que nunca foi dito.
Queria beija-la, senti-la, ela também queria,
Mas reflexos, não se tocam só se veem.
Reflexos, só se admiram,
Nós éramos, sem serem, apenas reflexos,
Não de fora, mas de dentro, do sentir!
ESPELHOS 2
Seguiu meus passos, delicadamente;
Logo estava lá na porta,
Quieta
Quieta
Séria;
Lá na porta
Me olhando como quem não olha...
_Café?!
_Não, agora não... Com licença.
É da vida se espelhar em algo semelhante;
Ver meus cabelos, seus olhos! Meu olho
Nos seus olhos. Tinindo de vontades...
De remorsos, de saudade... Do não vivido, mas do possível.
ESPELHOS 3
O amor novamente apavora minha face,
Que pasma vendo um eu perdido,
Perdido nos olhos, nas curvas, no gesto
De um reflexo que me segue pelo corredor.
Seria minha alma correndo atrás do meu corpo
Seria a miragem de um pedaço de mim que fugiu,
Um pedaço daquilo que sou. Daquilo que não vivo
Será um reflexo? Apenas? _ Não!
É bem mais do que um reflexo,
É uma parte de mim que não domino
Noutro ser que não domina a parte de si
Que ficou presa em mim. E os olhos se falam:
_ Por que me olhas?
_ Porque te admiro!
ESPELHOS 4
Dorme seu rosto, vejo seus olhos, dorme os olhos vejo seu corpo...
Dorme em mim, seus desejos, em ti dorme minha paz!
Dorme em ti meus anseios, em mim dorme sua voz...
Dorme em mim seus sonhos, dorme em ti minhas duvidas...
Dorme seu rosto, vejo seus olhos, dorme seus olhos vejo seu corpo...
ESPELHOS 5
As rugas mostram-me o horror do envelhecer...
Os cabelos brancos mostram-me a verdade do que faço,
Penso, preocupo-me, não mudo e caio no abismo dos que amam.
Assim vivo nas profundezas do meu eu.
Ela está lá, nas alterosas do paraíso, fingindo!
Ser aquilo tudo que diz...
Quando a vejo seus olhos me falam do sofrer
Quando me vê, meus olhos gritam a inveja
Quando me vê seus olhos me falam “Quem é?”
Quando a vejo calo-me e pergunto a mim
“Quem sou?”.
E agora, o que faço?
Esse espelho que não quebra...
Esse grito que não cala.
Escritos por Leonardo da Rocha Bezerra de Souza, um cara estranho!