PRESTO VIVACE





Destino se perde a cada esquina,
em cada coração sozinho,
no emaranhado de concreto armado.
Trabalho, apatia, peixes de quatro patas,
autoridade constituída, pena de todo mundo,
correr sem pressa de assinar o óbito...
dizem que tudo isso é herança da ilegalidade,
tudo isso é som de sintetizador...
não são buzinas nem sinais,
nem formas de se burlar o efeito da Babilônia.
Encontrou-se quando eu cheguei,
quando a brisa trouxe o perfume,
quando a última lembrança desapareceu,
deixando um fantasma pra trás.
Dizem que isso é condenação,
dizem que isso é o século que se finda.
Mas os fantasmas não agradecem pela verdade,
nem os motores cessam sua atividade,
uns corações morrem outros continuam,
uns buscam e outros apenas...deixam.
Ninguém gosta de ser o próximo,
ninguém entende o momento de calar...
Pegue a coroa em meu lugar,
assuma o manto de asfalto e óleo,
assuma a matança em nome do jornal,
impresso à noite e às pressas,
dando conta de absolutamente nada.
Porque todos os dias serão iguais,
mesmo que não chegue a luz a cegar.
Eu não amo mais, ninguém ama mais,
ninguém conjuga verbos com exatidão,
ninguém entende todos os dias...
o desespero se esgueira pelas rachaduras,
e elas estão nas paredes, nas armaduras,
na pele, no pensamento, na escrita,
condenando o próprio Deus à aniquilação.
O progressivo entendimento da mentira,
permite a finalização das ilusões.
Investiga-se a falta de tudo o que há,
permite-se que a feiura assuma todas as formas.
É mentira quando digo que amo,
é mentira quando digo que acredito em tudo o que há,
mas ninguém detem os direitos sobre a culpa.
Porque o mundo é feio.
Porque o mundo se arrasta em cada rua,
brotando de espasmos junto a flores,
e ninguém tem culpa porque tudo deixa sua marca,
tudo é feito de lágrima estancada.
E  nesse sonho nascido de ritmos tensos,
de povos sem razão,
só pode-se a expressão da rebelião.

Esta noite, será uma longa noite.
Pode me ouvir congelando e tentando,
desesperadamente,
estar ao lado e não dentro,
estar inteiro e não fragmentado em aforismos?
Despencou a lua do céu,
morreu no peito toda a linguagem,
apagaram-se os faróis dos olhos,
e tudo no mundo é mecânica do interesse,
esperando até a última hora,
para curar, para libertar, para entender,
para ir-se embora, para incendiar.
E tudo terminará como o barco que desce o rio,
em chamas, consumindo um casal impossível,
que também carboniza o reino dos céus,
num apocalipse atômico e gráfico,
até que sobrem cinzas prateadas.
E essa cinza será a vergonha,
será o que vejo agora tão triste,
por uma espera de olhos disfarçados
por detrás de óculos escuros,
esperando para atravessar a rua,
e esquecer de tudo aquilo que previ.

EDUARDO PAIXÃO
Enviado por EDUARDO PAIXÃO em 08/06/2012
Reeditado em 08/06/2012
Código do texto: T3712538
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