Gritos do silêncio
Se falasse protestaria,
O magneto que cola mau gosto na geladeira;
O controle-remoto que furta o silêncio com besteira;
A veste esquisita que sofre a miopia da hospedeira;
A narina violentada que contrariada, cocaína cheira...
A bunda que engorda visível, atrelada à cadeira;
O livro de verve sapiente coberto de tanta poeira;
O frêmito precipitado do tolo falando asneira;
A meia-cara despudorada disfarçando de inteira...
As palavras da verdade esquecidas na prateleira,
O vinho de casta nobre na taça de uma toupeira;
A destreza, capacidade, a serviço da roubalheira;
A promessa ampla mirando apenas, ilusão ligeira...
O poema de amor do qual sua musa se esgueira,
O desejo que em vão, vive acendendo a lareira;
O travesseiro vazio por que está vaga uma beira,
a metade da laranja, que deseja muito, ser inteira...