O real e o poeta

eu

que pensei

que fosse igual

ao poeta...

mas vejo que sou

o poeta quando acorda!

quando o sonho se torna

real...

Quando as folhas são

folhas...

quando a rua é uma rua

quando o amor é um

sentimento

e não uma palavra.

quando a flor é

uma flor, que tem vida

que nasce, cresce

precisa de água,

de sol, de sombra...

de cuidados...

de alimento.

que seja podada...

essa parte minha

não é poeta

é gente que tem fome

que anda descalço

Que quer mais a carne

que o céu...

prefere o feijão

o arroz, um roupa

quente e uma mulher

de carne, real

que tem um beijo

espetado na boca

essa parte de

não é poeta

porque é menos

medroso, não sonha tanto

é mais ativo da vida...

e sabe escrever versos

mais reais que meu

outro lado, o poeta...

Somos o mesmo..

mas em frequências

outras.

o poeta ver, mas

ver com tanto medo

que coloca flores

em todo lugar...

pra se sentir seguro...

O mundo não é uma abstração

o mundo feito ferro

de terra, de osso,

de carne, de juventude

de velhice, de amor

e de ódio...

Por mais que o poeta

queira dar aparência

de sonho às coisas

reais...

elas existem

e meu outro lado,

o poeta,

sabe disso...

e espero que ele me compreenda...

e fique comigo, falando

das coisas reais,

e que mesmo

quando coloca flores

ele saiba,

que está se diminuindo

diante da verdade

do real

Ariano Monteiro
Enviado por Ariano Monteiro em 08/06/2012
Código do texto: T3711976