O real e o poeta
eu
que pensei
que fosse igual
ao poeta...
mas vejo que sou
o poeta quando acorda!
quando o sonho se torna
real...
Quando as folhas são
folhas...
quando a rua é uma rua
quando o amor é um
sentimento
e não uma palavra.
quando a flor é
uma flor, que tem vida
que nasce, cresce
precisa de água,
de sol, de sombra...
de cuidados...
de alimento.
que seja podada...
essa parte minha
não é poeta
é gente que tem fome
que anda descalço
Que quer mais a carne
que o céu...
prefere o feijão
o arroz, um roupa
quente e uma mulher
de carne, real
que tem um beijo
espetado na boca
essa parte de
não é poeta
porque é menos
medroso, não sonha tanto
é mais ativo da vida...
e sabe escrever versos
mais reais que meu
outro lado, o poeta...
Somos o mesmo..
mas em frequências
outras.
o poeta ver, mas
ver com tanto medo
que coloca flores
em todo lugar...
pra se sentir seguro...
O mundo não é uma abstração
o mundo feito ferro
de terra, de osso,
de carne, de juventude
de velhice, de amor
e de ódio...
Por mais que o poeta
queira dar aparência
de sonho às coisas
reais...
elas existem
e meu outro lado,
o poeta,
sabe disso...
e espero que ele me compreenda...
e fique comigo, falando
das coisas reais,
e que mesmo
quando coloca flores
ele saiba,
que está se diminuindo
diante da verdade
do real