Para o meu irmão
passo os pés às mãos
e me avesso de mim
se não gostares do que me vês
na orla branca daquelas tardes
daqueles dias ruins
eu te admirava tanto
quanto me vestia de ti
és grande e belo e irmão
e és de tão depois de mim
pois que não se contam teus dias
por esses nossos dias tão mortais
me fiz mais velho
me quis mais velho
pra poder cuidar de ti
a minha insignificância
minhas mãos que não se adiantavam em nada
em letras de chumbo
mostraram-se hábeis
em dissonantes cordas
daquele violão que esqueceras no canto do quarto
e pra esconder meu rosto
serviram-me sempre
serviram-me bem
ainda assim
essas descuidadas mãos cuidavam de ti
que és belo e imenso e irmão
mas certamente não te lembras daquelas tardes
eu sei
e sei também que não te foram ruins
aqueles dias tristes
sei bem
assim como sei que não sabes que te escrevo
não sabes que te protejo ainda em distância
e cubro teu rosto de tudo que não convém
e com minhas mãos não tão incapazes assim
te abraço de longe
e me avesso de mim
se não gostares do que me vês