Eu Quero um Baú de Analgésicos
Sensação de dor constante
E meus remédios já não fazem mais efeito
Já li a bula, acho que estão com defeito
Se me adormecessem seria o mais perfeito
Dores avassaladoras e incontidas
Nervos contraídos em espasmos rudes
Envergando meu corpo e minha vida
Nessa elíptica dança de sensações
Dores que me franzem o cenho
Há anos como companheiras as tenho
Nesse latejante acordar sofrível
E os meus movimentos tornaram-se indefectíveis
Queria dormir em um baú de analgésicos
E acordar em camas de bolhas de sabão
Seria estranho, acordaria limpo de dores
Com a alma lavada dos dissabores
Mas a ferida física determinou meu fado
E sigo poetando um tanto quanto embevecido
O corpo já cansado com olhar esmorecido
E o fardo se faz pesado nessa via-crúcis que eu sigo
Queria dormir em novelos de pulôveres
E na maciez das linhas amenizar as minhas dores
Que me deterioram de pouco em pouco
Nesse frenesi alucinante de um poeta louco