"LIMPEZA"

Não, não, basta! Hoje aliviarei o peso de meu ombro,

Farei qual cavalo bravo, chacoalharei com força o lombo,

E os cavaleiros indesejados cairam todos – que tombo!

De forma alguma! Não aceito mais alimentar parasitas!

Quem ou o que me fere: cai fora! Não quero nem visitas!

Seres que se alimentam da minha dor – qual sanguessuga,

Tudo e todos que me entristecem, que me causam rugas,

Quem ou o que me quer pessimista, que me envelhece,

De um a um arrancarei de minha vida já – desce, desce,...

Esses famélicos da desgraça alheia que sobem na minha cruz,

Pelo prazer de me ver arquejar sob um peso que não me impus,

Desfarei desse fardo do meu ombro: Pedirei ajuda a Jesus!

Aquele ou aquilo que, com a sombra negra da maldade,

Tenta encobrir a luz do meu sorriso - os inimigos da felicidade

Própria e alheia, abandoná-los-ei todos – não deixarão saudade!

Os de humor negro, os pândegos, que riem do que é sério,

Para quem a vida é só um parque de diversão – o fútil, o hilário,

Incapazes de entender uma reflexão ante a vida – quanto mistério!

Serão, no meu passado, enterrados com seus corpos pesados,

Alívio! Diminuirei, do meu ombro, o peso dos fardos, já pesados!

Varrerei de o meu caminho todo ser mesquinho – serão esquecidos!

Os de coração endurecidos, os que não se emocionam ante o belo:

Das artes, da Natureza, da humana beleza - arrebentarei todo elo;

O materialista, o que crê só no que vê a vista – não vou mais ouvi-lo!

Tornar-me-ei perfeito? Não, não! Tenho defeitos, neles - darei jeito,

Ou melhor, aprenderei com a vida, suas sábias lições! Quem é perfeito?

Carregarei somente o peso da minha cruz, o que não é meu – rejeito!

Manoel de Almeida
Enviado por Manoel de Almeida em 05/06/2012
Código do texto: T3707833
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