AREIA MOVEDIÇA
O tempo é sangue idoso, de alma farta, de coração enxame,
é andarilho ávido, criatura milfacetada que se utera em cada confim.
O tempo se descarilha sem pedir licença, nem trégua,
faz seus acordes enviezando as vértebras dos seres sem furor,
faz seus demandos surripiando da fé o que a fé tiver de mais vivo.
de mais crivo, de mais esquivo.
O tempo se amotina nas falanges do sonho, acotovelando cada chão,
percebe os atalhos carcomidos mergulhados num bafo de alecrim,
escancara as maldades dos ventos num curtume insosso e amargo.
O tempo é algoz nas fronhas, é baba dilacerada da paixão,
cada acorde que emana faz a vida revirar-se no seu túmulo,
cada fornada que liberta seduz os fiéis andarilhos que teimamos em ser, em fecundar, em dilacerar.
O tempo engorda curvando seu suor nas pregas ásperas do inferno,
é engodo embriagado que driblamos feito marionetes de teatro mambembe,
grita cuspindo fuligem como de fosse o rei do deserto,
descama seus pesares afogando nessa gosma o que fomos uim dia,
se perde ao longe até que esqueçamos que um dia nos atracamos nele,
vira areia movediça só pra se fartar da nossa agonia, num gozo desamparado. desancorado e plenamente feliz.
------------------------------------------------
visite o meu site www.vidaescrita.com.br