Vigiando o Tempo

Infiltrando-me nos planos do amanhã

Caminho o meu hoje pleno de ontem

Nessa jornada sinuosa e cheia de dentes

Numa boca entreaberta por detrás da porta

E em gaivotas matinais esvaem-se os recadinhos

No bocejo do pelicano adormece a cavalinha

E o mergulhão afinado submerge em maestria

Marcando o espreguiçar matinal de um novo dia

E eu, somente espio as frestas dos tempos;

desconfiado de todos os caranguejos e siris,

na maré baixa, olho os brilhos em cascatas...

E o tempo urge em lampejos insaciáveis

Como se engolisse todos os mundos,

todas as cerejas e estrelas cadentes;

todos os vivos e todos os mortos,

num banquete de cabeças atemporais...

E o velho, já cansado, lê sempre o mesmo livro...

O livro das amareladas páginas de uma vida breve...