Nuances da Morte

Morrendo aos poucos,

aos outros,

aos gemidos escarnecidos;

afogado em fuligem de um crematório.

Morrendo todos os sonhos,

os reais e os irreais,

o agonizante último respirar;

colhendo as cinzas de um cão atropelado.

Morrendo as flores,

as camélias gritam;

e as mulheres choram,

as mortes das guerras;

a morte das eras;

o derrocado imo meu,

e os filhos não nascidos.

Morrendo aos poucos,

eu e os outros,

o pássaro velho e tardio,

na torre abandonada do mundo;

nas réplicas de uma borboleta,

ou apenas em um sono profundo;

onde o acordar amplia os sentidos.

Morre o tempo, e as estrelas, e os velhos, e os novos;

morre a esperança junto aos corpos espalhados nos campos de batalha,

e o que resta são, histórias... Versificadas ou em prosa.

E o poeta nunca adormece, vigia os cadafalsos e os recônditos sombrios,

pluralizando os mundos e as nuances mortificantes de viver...