O Ladrão dos Jardins Desgastados

Da lua

Roubo o sol

Em cascatas de estrelas

Deturpando equilíbrios

Cerzindo as costuras temporais

Da lua

Roubo a luz

Em baionetas desgastadas

Acariciando os sorrisos

Enfurecendo os dedilhados

Da rua

Roubo os sons

Em caixas de papelão

Ensurdecendo as chaminés

Despoluindo os tímpanos vindouros

Da rua

Roubo o chão

E superfícies austeras

Caminhando em solavancos

Guardando no meio-fio as redundâncias

Da lima

Eu roubo a acidez

Em palidez de sumos

Em sucos gástricos absorvidos

Depositados nas vertentes do organismo

Da lima

Eu roubo a lâmina

Em espadas afiadas

Em cinzeis esquecidos pelo artesão

E escrevo canhoto minhas letras destras

Da vida

Eu roubo a morte

Em sonhos alucinantes

Na campa do destino quebro lápides

E cavo buracos em jardins esmorecidos

Da vida

Eu roubo a vida

E os sonhos de uma papoula

Definhando em uma seringa de analgésicos

Onde repouso todas as aberrações inalteradas

Da lua eu roubo o sol, e a rua eu desconstruo;

da vida eu roubo a lua, e em sóis aterradores,

grito os sonhos, roubo as limas do meu quintal;

e o buril e guardo em masmorras de eu mesmo,

e roubo todos os astros desconhecidos em uma luneta.