Piano Requiem
Faz tempo que não toco o piano,
que ficou num canto esquecido.
Antes, fazia bastante sentido,
agora, parece não ser mais comigo.
É uma criatura estranha e fria,
amontoada num lugar escuro,
silenciado pra sempre, mudo,
é só madeira e cabo retorcido.
As coisas tê mais graça aos 25,
quando parece que todo embate engrandece.
Anos depois, nem perto chego da partitura,
e esta, por ser sem graça, envelhece.
Não é preguiça, nem mal gosto musical.
É só a paciência que se encurta,
para lidar com um velho piano banal.
A música que dele saiu, a ele pertence.
E depois de enterrado, em ruínas,
levará as melodias, e tristezas,
que não mais me petencem pois descobri
que apenas ouvi. Interpretei mas não me feri.
Descanse em paz, piano velho.
A morte é para todos e a eternidade
pertence ao futuro; é um mistério.